segunda-feira, 7 de junho de 2010

A retomada dos investimentos no Brasil

*José Álvaro de Lima Cardoso

Nestes primeiros meses do ano o processo de crescimento da economia vem se baseando na forte retomada da indústria. Mesmo tendo desacelerado em abril, no ano, o setor alcança alta de 18% e, em 12 meses, expansão de 2,3%. No setor de bens de capital (máquinas e equipamentos) a produção de abril último é superior em 36,3% a abril de 2009, revelando a robustez da recuperação industrial. No primeiro trimestre a produção industrial havia crescido 18,1% sobre o mesmo período do ano passado, a maior expansão trimestral desde o início da pesquisa, em 1991. Claro que a base de comparação, 2009 - um ano de estagnação - influenciou a magnitude
do resultado.

Mas o crescimento é disseminado pelos vários segmentos da indústria e tem sido
puxado pela expansão do emprego e da renda, em um contexto de forte expansão do crédito. A indústria como um todo deverá crescer algo acima de 8% neste ano.
A recuperação da indústria é fruto, dentre outros fatores, da retomada dos investimentos no setor privado, em máquinas e equipamentos (a chamada Formação Bruta de Capital Fixo), que, segundo estimativas do Ministério da Fazenda, já voltaram ao patamar de crescimento do período pré-crise e deverão expandir de 18% a 20% neste ano. A taxa de investimentos, neste cálculo, deve chegar a 18,5% do PIB, ainda muito baixa, mas muito melhor do que os 16,7% de 2009. Na recuperação da taxa de investimentos, além da retomada do investimento privado, o setor público tem peso importante, com destaque para: a viabilização do Trem de Alta Velocidade Rio-São Paulo (TAV RJ-SP) (R$ 34 bilhões);Pré sal e outros investimentos da Petrobrás (a Empresa investiu R$ 70 bilhões em 2009 e prevê R$ 82 bilhões para este ano.

A previsão é de investimentos de R$ 350 bilhões até 2013); Copa do Mundo em 2014 (estimativa de R$ 20 bilhões); Jogos Olímpicos (R$ 16 bilhões de investimentos públicos + o setor privado cujo investimentos pode alcançar a R$ 30 bilhões); Minha Casa, Minha Vida (R$ 60 bilhões); PAC (R$ 646 bilhões entre 2007 e 2010); hidrelétrica de Belo Monte (R$ 19 bilhões); hidrelétrica de Santo Antônio, dentro do modelo de Parceria Público Privada (PPP) ( R$ 13,5 bilhões); ferrovia Leste-Oeste, na Bahia (R$ 6 bilhões).

O montante de recursos envolvidos com o projeto de investimentos do governo brasileiro só fica abaixo, no mundo, do valor do projeto empreendido pelo governo chinês. Estes investimentos do governo brasileiro, além de fundamentais para evitar gargalos para o crescimento, exigem aportes financeiros muito elevados e têm maturação longa, o que significa total dependência do setor público, já que o setor privado não entra, pelo menos sozinho. Este é o 2 caso das linhas ferroviárias, hidrelétricas e outros segmentos. Além disso, o Estado tem sido fundamental no aporte de recursos para o investimento no setor privado, através dos bancos
federais, principalmente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que expandiram rapidamente a oferta de crédito.

A retomada do crescimento da indústria, mencionada anteriormente, está diretamente
relacionada com a geração de empregos formais, montando um ciclo virtuoso: indústria em crescimento gera empregos e estes viabilizam o consumo que fomenta a indústria. Em abril foram gerados 305.068 postos de trabalho com carteira assinada, um recorde para o mês, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). Este resultado só é inferior a junho de 2008, quando o saldo totalizou mais de 309 mil empregos. Já são 962.327 emprego formais em 2010, após quatro recordes sucessivos na geração de empregos. A melhoria da situação no mercado de trabalho tem se refletido também nos números da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED-Metropolitana), realizada pelo DIEESE. Em abril último a taxa estava em 13,3%, inferior a abril de 2009, quando situava-se em 15,1%. Nos últimos 12 meses, findos em março último, o rendimento médio real dos ocupados praticamente não variou, mas, por conta do aumento no nível de ocupação, no mesmo período a massa de rendimentos dos
ocupados cresceu 3,3%.

*Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.

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