quarta-feira, 19 de maio de 2010

Manifestação em São Paulo pede condenação de torturadores do período militar

Decisão do STF garante anistia aos agentes do Estado que praticaram crimes políticos
Dezenas de pessoas protestaram nesta terça-feira em São Paulo contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que garantiu anistia aos agentes do Estado que praticaram a tortura durante o período da ditadura militar (1964-85). Os manifestantes, que realizaram o ato em frente ao Pateo do Colégio em São Paulo, pediram também a condenação dos torturadores e do Brasil na Corte Interamericana dos Direitos Humanos.

— É uma decisão lamentável que o STF tomou. Uma vez extinta no Brasil a possibilidade de justiça, nós temos que recorrer à Corte Interamericana — ressaltou o vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais, Marcelo Zelic.

De acordo com ele, a Corte irá julgar, nos próximos dias 20 e 21, uma ação, requerida por familiares de militantes desaparecidos na Guerrilha do Araguaia, contra o Brasil. O país é acusado pelo desaparecimento de guerrilheiros e de tortura. Zelic acredita que o julgamento possa questionar também a Lei de Anistia. — Esse caso deverá tratar também da questão da Lei da Anistia, uma vez que ocorrerá semanas depois da votação do STF.

Parte dos manifestantes ainda pediu que os torturadores sejam obrigados a falar exatamente o que cometeram durante a ditadura. O ex-preso político Rafael Martinelli, hoje presidente do Fórum de Ex-Presos Políticos do Estado de São Paulo, disse estar disposto a dizer o que ele fez no período, desde que os agentes do Estado também façam o mesmo.

— Nós queremos que eles sentem lá como réus. Se eles quiserem que a gente sente, vamos sentar também e vamos dizer o que fizemos e o que não fizemos. Agora, o lado de lá tem que um dia falar, que torturou, que, estuprou que enterrou, que massacrou, tudo isso eles vão ter de falar — disse.

Leopoldo Paulino, do Grupo Tempo de Resistência, de Ribeirão Preto (SP), lamentou que apenas os oposicionistas tenham sido julgados durante a ditadura e que isso não possa vir a ocorrer com os agentes do Estado. — Nós todos fomos julgados por tribunais militares nesse país. Não fomos julgados pela Justiça comum. Fomos julgados pelos próprios colegas dos torturadores e assassinos. Nós temos moral de vir aqui e contar aquilo que fizemos. Eles não têm moral para dizer o que fizeram — afirmou.

AGÊNCIA BRASIL
Diário Catarinense

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