Diario Catarinense
Pesquisa da Defesa Civil também demonstra efeito dominó
Francine Cadore | francine.cadore@diario.com.br
Os molhes da Armação do Pântano Sul, no Sul da Ilha de Santa Catarina, e Barra da Lagoa, no Leste, são os responsáveis pelos efeitos devastadores da ressaca registrados em maio e junho deste ano. A conclusão é da Defesa Civil municipal de Florianópolis e foi divulgada nesta quarta-feira.
Enquanto a faixa de areia aumentou em alguns pontos, em outros, sumiu. Sem a proteção natural da areia, os efeitos da ressaca foram amplificados e serão sempre lembrados pelos moradores que viram suas casas serem tragadas pelas águas.
A conclusão sobre a ressaca na praia do Campeche, no Sul da Ilha, chama atenção: mesmo sem ter molhe, a praia sofreu os efeitos da construção do trapiche da praia da Armação do Pântano Sul.
De acordo com o geocientista voluntário da Defesa Civil, responsável pela elaboração dos laudos sobre a Armação, Barra da Lagoa e Campeche, os molhes alteraram a deriva litorânea, também chamada de corrente marinha, e provocaram um efeito dominó nas praias próximas às que têm o molhe.
Com os molhes, o sistema dinâmico natural de erosão e sedimentação da praia foi alterado, o que provocou uma erosão acentuada na Armação e o sumiço da faixa de areia.
Sem uma barreira natural para interromper o processo, ou uma medida definitiva de recuperação da praia, o fenômeno teve um efeito dominó: as praias próximas foram se "contaminando" e sentiram os efeitos da ampliação do molhe da Armação.
Na Praia do Matadeiro, a faixa de areia engordou; na Armação, diminuiu; no Morro das Pedras, engordou; no Campeche, diminuiu; e próxima ao costão da Joaquina, engordou. Sato destaca que o problema ficou confinado à área entre Armação e Campeche porque o paredão de rochas, na Joaquina, proporcionou uma contenção natural da mudança drástica na linha de costa.
A erosão foi constatada por meio de análises de fotos áreas das três praias, desde 1938 até 2010, obtidas no Geoprocessamento Corporativo da prefeitura e Google Earth.
Erosão não acontece apenas em Florianópolis
De acordo com Sato, outras cidades do litoral catarinense também sofrem os efeitos da erosão causada pela construção de molhes. As praias de Balneário Camboriú, Barra Velha e Itajaí são alguns dos exemplos. Na opinião do geocientista, como medida preventiva, o poder público deveria fazer um mapeamento dos molhes em Santa Catarina e levantar a taxa de erosão e sedimentação de cada uma das praias.
Em Florianópolis, as construções dos molhes da Armação e da Barra da Lagoa são anteriores à legislação ambiental do Estado, que foi instituída em 1981. Por essa razão nenhum deles passou por licenciamento dos órgãos competentes. Na Fatma e na Floram não há registros das obras e as histórias dos molhes estão principalmente na memória dos moradores das praias.
Na Armação, de acordo com o presidente da Associação de Pescadores, Fernando Sabino, a obra foi feita em 1772, pela Companhia Baleeira da Armação. Não se sabe bem ao certo com que finalidade ele foi construído, mas o pescador acredita que o molhe foi feito para auxiliar de alguma forma os moradores da época, que viviam da caça às baleias.
— Diferentemente do que muita gente pensa, o molhe não foi feito na década de 1990 para a construção da passarela. A passarela foi feita em cima do molhe que já existia há muito tempo — conta ele.
Sabino possui fotos de sua infância, na década de 1950, que mostram a obra já construída.
Na Barra da Lagoa, a construção é mais recente. Segundo o presidente do Sindicato dos Pescadores de Santa Catarina, Osvanir Gonçalves, o molhe foi feito no fim da década de 1970 para manter permanentemente aberto o canal entre a Lagoa e a praia.
— Quando dava mar ruim, o canal se fechava e se transformava numa praia com muita areia e isso era prejudicial para os pescadores da época — afirma Gonçalves.
quinta-feira, 1 de julho de 2010
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