Por Claudia Santiago
‘Alguns de nos podem dizer: fazemos parte de um pedacinho da história. Aqui, em Porto Alegre, tudo começou quando a esperança que, antes havia nos alimentado em movimentos menores, foi para as ruas. Em Porto Alegre, há dez anos, houve o início da esperança de que as coisas poderiam mudar e que o monstro, o capitalismo, poderia ser desafiado. Não foi por acaso que tudo começou em Porto Alegre. A voz que saiu daqui foi uma voz do sul para o sul. Não é por acaso que esta voz tenha vindo da terra do Fidel, de Allende, da América Latina.”
Desta forma emocionante, o indiano Amit Sengupta (People Heath Movement) começou a sua fala no debate sobre hegemonia no seminário que discutir ou dez anos do Fórum Social Mundial, no dia 28 de Janeiro, na Assembleia Legislativa de Porto Alegre.
Sua fala foi recheada de dados sobre a dura vida dos pobres no seu país. “Muitas pessoas na índia querem salvar o planeta. Mas perguntam: pra que salvar? Para continuar vivendo como vivemos agora?” A frase tem o efeito de um soco no estômago. Mas ele continua. “Para querer fazer algo para salvar o planeta, eles precisam ter algo para salvar”.
Mas Amit não é pessimista. “Hoje, o capitalismo enfrenta a sua crise mais profunda. Através do FSM talvez tenhamos contribuído para diminuir um pouco a importância do capitalismo. Não impedimos as guerras, mas muitos foram às ruas dizer: “não em meu nome”. Muitos foram às ruas desafiar o capitalismo”.
Para o ativista indiano, hoje já se pensa no impensável, que “talvez a espécie humana não consiga sobreviver daqui há cem anos.” Quando falamos de construir uma contra hegemonia não basta simplesmente derrotar o capitalismo, ela deve ser acompanhada por medida que protejam a espécie humana contra a extinção.”
Estas mudanças devem se dar, segundo Amit Sengupta, nas relações de poder dentro do capitalismo, já que a sede do poder que está nos EUA, se desloca para países como o Brasil e Índia. “Não basta destruirmos o capitalismo global, temos que lutar contra o capitalismo nos nossos próprios países”.
Na Índia de Amit, o subconsumo é um problema maior do que o consumismo. ‘Enquanto se investe numa nova visão que enfrente o excesso de consumo, em muitos lugares temos só o problema do subconsumo”. Amit conta que amigos brasileiros quando chegaram a Mumbai, no Fórum indiano, ficaram chocados com o que viram. “Não se vê em qualquer outra parte do mundo o que se vê em Mumbai. Dez pessoas morrem por dia no transporte público, que é muito inseguro. São muitos os sem teto, os andarilhos, os desempregados, os sem comida.”
Ele tem uma explicação para isto. “Embora o capitalismo pareça estar em dificuldades, ele ainda continua tentando colonizar o nosso futuro. E isto é algo que temos que contestar”. O militante indiano propõe que a contestação se dê através de uma boa relação entre os movimentos de trabalhadores, de feministas, de ecologistas, com um diálogo sem hostilidades entre os velhos e os novos movimentos, com a união da esquerda. Para ele, esta é a lição do Fórum Social Mundial e assim se construirá a hegemonia futura.
Nucleo Piratininga de Comunicação (NPC)
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
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