quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Exército reduz toque de recolher e pede fim de protestos no Egito

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

www.uol.com.br

Atualizado às 08h48.

As Forças Armadas do Egito reduziram nesta quarta-feira o toque de recolher em três horas e pediram para que os manifestantes encerrem os protestos que atraem milhares de egípcios há nove dias pela queda do ditador Hosni Mubarak, no poder há 30 anos.
As medidas, além da retomada da internet após cinco dias, parecem um esforço do governo para retomar aos poucos a normalidade no país, horas depois de um pouco convincente discurso de Mubarak na TV estatal prometendo não concorrer novamente.
O toque de recolher será imposto agora das 17h às 7h (13h às 3h em Brasília), em vez das 15h às 8h (11h às 4h).
Ele foi imposto na sexta-feira passada (28), dia de violentos confrontos entre manifestantes e as forças de segurança em todo país, mas foi violado sistematicamente por centenas de manifestantes que dormem há dias na praça Tahrir, no centro de Cairo, epicentro da revolta popular.
Em comunicado lido na TV, o porta-voz das Forças Armadas pediu ainda nesta quarta-feira o fim dos protestos. "É possível que vivamos uma vida normal, é possível para os netos dos faraós e os construtores das pirâmides superar as dificuldades e conquistar segurança", disse.
"Sua mensagem chegou, suas demandas foram conhecidas, vocês são capazes de trazer a vida normal ao Egito", completou.
O Exército tem um papel crucial na crise política no Egito. Diferentemente da polícia e das forças antidistúrbios, os militares recebem confiança dos manifestantes --que veem neles uma força menos violenta e menos submissa a Mubarak.
Os egípcios dizem que os militares não atacariam com violência os manifestantes, já que muitos têm parentes e amigos entre os que protestam pelo fim do regime.
A Irmandade Muçulmana, mais organizado grupo de oposição, afirmou recentemente querer negociar com o Exército, 'o único no qual as pessoas confiam', para chegar a um acordo sobre a transferência de poder de forma pacífica.
Em outro gesto aparentemente conciliador do governo, a internet voltou a funcionar nesta quarta-feira no Egito. Essencial para articular os protestos, o serviço estava bloqueado desde a última sexta-feira (28), quando os manifestantes opositores ocuparam a praça Tahrir.
PROTESTOS
Apesar do discurso de tom conciliador de Mubarak, cerca de 1.500 manifestantes passaram a noite na praça Tahrir e iniciaram na manhã desta quarta-feira o nono dia consecutivo de protestos pela queda do ditador egípcio, no poder há 30 anos.
Sem se impressionar com o discurso da véspera de Mubarak, em que prometeu não concorrer a um sexto mandato nas eleições de setembro, os manifestantes exigem a renúncia com uma mensagem clara: "Não sairemos, ele sairá".
O grito ecoava na praça que se tornou epicentro dos protestos e que reuniu ao menos 200 mil nesta terça-feira pelo fim do regime ditatorial na nação árabe.
Muitos dos manifestantes desta quarta-feira estavam acampados em tendas ou abrigados embaixo de cobertores, determinados a só deixarem o local após a queda de Mubarak. Faixas de cerca de 20 metros de largura afirmam em vários cantos da praça "O povo exige a queda do regime", em inglês, ou "Vá embora", em árabe.
O Movimento 6 de Abril, grupo de jovens ativistas pró-democracia, disse que o discurso de Mubarak não foi suficiente. 'Nós continuaremos nossos protestos na praça Tahrir e por todo país até que as demandas do povo sejam atendidas', disse em comunicado.
"As pessoas querem o fim do regime", completou.
O grupo Irmandade Muçulmana também insistiu nesta quarta-feira em pedir a renúncia de Mubarak e avaliou que chega tarde o anúncio de que não buscará sua reeleição no pleito de setembro.
"Está claro que o presidente Mubarak ignora os pedidos do povo e da Irmandade com as outras forças opositoras", assegurou Gamal Nasser, um porta-voz do grupo opositor.
Mubarak, 82, anunciou na noite de terça-feira pela primeira vez seus planos com relação ao próximo pleito, em discurso que foi transmitido pela emissora pública de TV, no final de uma jornada de protestos em massa contra seu regime, que começou em 1981.
Ele disse que, "à margem das atuais circunstâncias", não tinha intenção de apresentar-se como candidato presidencial na próxima eleição e afirmou que adotaria uma série de passos para preparar "uma transição em paz".
"Por que Mubarak não disse isso antes?", questionou Nasser, antes de avaliar que o presidente é "muito obstinado" por não entender a mensagem das ruas. Segundo o porta-voz, a Irmandade Muçulmana seguirá participando das manifestações até que Mubarak deixe o poder.
"É normal que os protestos continuem até que o presidente se vá, porque este é o primeiro pedido", acrescentou, antes de expressar a confiança em que "este período não vai durar muito".
OUTRO LADO
Mas as ruas foram ocupadas também por milhares de manifestantes pró-Mubarak, segundo a agência de notícias Associated Press, em aparente tentativa do governista Partido Nacional Democrático de reganhar fôlego em meio aos megaprotestos pela queda do ditador.
O Exército teve que intervir nos confrontos entre cerca de 20 apoiadores de Mubarak de mil manifestantes antigoverno em Tahrir.
Os confrontos foram piores em Alexandria, onde centenas de manifestantes dos dois lados se enfrentaram, segundo imagens do canal de TV Al Jazeera. O jornal britânico "Guardian" diz haver relatos de ao menos 12 feridos.
Várias milhares de pessoas se reuniram também do lado de fora da mesquita Mustafa Mahmoud, no Cairo, com faixas com o rosto de Mubarak. Muitos carros que passavam ao lado buzinaram em aparente apoio. A polícia cercou o local e redirecionou o tráfego.

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